terça-feira, 26 de junho de 2007

Sensibilidade para ver o belo



Depois de um mês na estrada, a fotógrafa Jaqueline Félix se despede do Circuito Revelando os Brasis. Dona de uma sensibilidade única para ver a beleza ao longo do caminho, Jaqueline lembra que aprendeu muito nas cidades por onde a caravana passou. Resrtam amizades e planos para voltar no futuro, para novas sessões de fotos.

Formada pela Escola Popular de Comunicação Crítica do Observatório de Favelas, Jaqueline se diz emocionada em poder conhecer parte da cultura do País, e que viajar com a caravana do projeto foi uma experiência de trabalho em equipe.

Fale um pouco sobre essa experiência de fazer fotos Brasil afora.

É muito bom, pois conhecemos parte da cultura do País, a beleza das cidades que estão esquecidas e distantes das capitais. Você conhece um pouco da história das pessoas, contando-a através de imagens. É emocionante porque as pessoas precisam se ver e serem vistas, tanto nas fotos quanto na hora em que o filme está na tela. É uma excelente oportunidade para formar novas amizades, criar novos contatos e, quem sabe, futuros trabalhos pessoais. Além disso, há a experiência de trabalhar em equipe, em que a atuação de cada um é importante para o conjunto, e todos precisam dar suporte para que as coisas funcionem.

Quais os locais que renderam mais imagens?

Sem dúvida foi Santana do Jacaré (MG). Pretendo voltar à cidade para mais fotos. Santana me fez lembrar um pouco a cidade onde mora minha avó. Visitei várias casas, conversei com as pessoas, fiquei conhecendo um pouco mais da história das irmãs Antônia e Aparecida ao conversar com elas, o que rendeu também uma série de fotos que fiz apenas com as duas.

Como é a receptividade das pessoas?
A melhor possível. Todos querem ser fotografados e pedem para ver a foto na hora. É muito bom ter ssa receptividade quando a gente chega a uma cidade.

Quais os melhores momentos?
Foi durante a exibição em Santana do Jacaré. Quando as pessoas começaram a se ver na tela (no documentário "Daqui Nóis Não Arreda o Pé", de Jairo Teixeira) e nas coisas que faziam com as irmãs, como agredi-las, jogar pedras no telhado da casa onde elas vivem. Houve um silêncio na hora. Até mesmo as crianças ficaram quietas. A cidade inteira parou para pensar e se retratar das coisas erradas que fizeram com as irmãs. Cheguei a chorar de emoção nesse momento.

Há algum "causo" interessante para contar?
Nosso repertório musical na estrada, que inclui todas as músicas cantadas pelo Brilhantino (do documentário "Brilhantino", de Ériton Berçaco). Também ficávamos repetindo as frases dele, e acabamos criando gírias “brilhantinas”. É um vídeo que vai ficar na memória.

O que não pode faltar na mala de um fotógrafo?
Um kit de limpeza. Para limpar a lente da câmera e o coração do fotógrafo, criando a sensibilidade para ver a beleza no outro, dando dignidade àqueles que a perderam ou acham que não a têm. Com um olhar mais sensível e o carinho pelo que retrata, é possível fazer com que as pessoas sejam bem vistas.

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